sábado, 13 de novembro de 2010

Chama

Anos passam, semanas passam, dias passam. Tudo sempre por um ciclo, com começo, meio e fim. Por mais intensa que seja a luz de uma chama, o fogo ilumina muito, mas por muito pouco tempo. Nada dura para sempre. A chama um dia se apaga.

De início não se pensa em despedida, de quando ou como vai ser, como vamos ficar marcados por um sentimento. Inicialmente há um brilho, tão intenso que a vista perde um pouco o foco da imagem: “Não vamos nos preocupar com coisas simplórias, vamos viver o momento, sem nos preocupar com o que virá depois.” Não enxergamos um palmo à frente, pra ser mais claro. Ficamos expostos a toda essa chuva de sentimentos que virá um dia, mais cedo ou mais tarde. Não temos culpa. Já é difícil enxergar ao nosso redor, imagina enxergar a tão longo prazo...

A despedida virá, seja por fatalidade, seja por imposições do destino, seja pelo apagar da velha chama. Talvez soe estranho, mas no último caso é mais agradável. Não no momento é claro. No momento você não compreende porque o “pra sempre” acabou. Afogaram-se planos, talvez sonhos, talvez vidas. Uma parte sua lhe foi arrancada à força, sem chance para defesa. Mas com o tempo você aprende. Aprende que isso vai passar, e a dor da despedida vai se transformar em saudosismo, marcado pelos bons e importantes momentos. Afinal de contas, como dizia Mário Quintana: “Que importa restarem cinzas se a chama foi bela e alta?”

A despedida carrega um paradoxo com sua própria existência. Vai haver sofrimento sim, mas também vai haver uma troca equivalente de enorme sabedoria, que contribuirá para futura felicidade.

Nada dura pra sempre. Com o tempo vamos aceitando isso e passamos a nos preparar para a despedida que virá, inevitavelmente. O jeito é tirar o máximo de conhecimento antes que chegue a dita cuja, e aproveitar intensamente o momento oportuno. 

Ao citar de novo outro imortal, Vinícius de Morais, concluo que essa deve ser a filosofia de vida de quem aprende com as despedidas: “Que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure.”

23/03/07



***
Eu ando numa onda meio retrô. Tenho lido alguns de meus textos antigos, e comecei a ser acometido por uma onda extremamente saudosista. Ao encontrar esta crônica publicada acima, me peguei com um sorriso bobo no rosto ao terminar de ler. É uma redação da época de colégio, não muito bem escrita e bem simples. 

Apesar da simplicidade, são linhas que até hoje me cativam muito: podem não servir como um exemplo de escrita sofisticada, mas são verdadeiras e fieis ao sentimento que lhes serviu de inspiração. É o tipo de texto que pode não satisfazer o ego do escritor no que diz respeito à parte técnica, mas o deixa satisfeito pela essência e pela  emoção agregada a cada palavra. E são esses tipos de textos (certas vezes simples, mas dificilmente simplórios) que têm lugar especial na coleção pessoal de cada escritor.




Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...