segunda-feira, 26 de julho de 2010

Noites sem fim


Durante o dia não havia graça.

O trabalho o tornava mais desgostoso. Não o motivava.

Uma mesa de escritório, um computador à sua frente, e nenhuma centelha de vida ou excitação. Os olhos vidrados fitavam o nada, na mais pura expressão de vazio. O olhar denunciava que as horas se arrastavam. Custavam a passar.

A rotina maçante o fazia questionar o valor de tudo aquilo. Era um questionamento passageiro, porém. Não tinha importância. Ele logo lembrava que os dias sempre tinham um fim.

A noite chegava e trazia a graça. Trazia a vida.

Um bar de jazz. Uma banda que tocava num palco à meia luz. Quase envolto em uma sombra, ele tocava o saxofone.

Deliciava-se a cada nota. A música o fazia flutuar. Trazia sentido à sua vida. Libertava-o dele mesmo.

Cada acorde o fazia se sentir mais vivo.

Eram sopros de vida. Era o seu mundo. Àquela altura já estava vivo, enfim. Era um sol brilhando à noite.

Um balcão de bar, um drink ruim e barato. Quase fim da noite. Um típico trabalhador de escritório que fazia bicos como músico. Estava exausto. E então, um sorriso de uma bela mulher. Mais um drink. Um olhar convidativo.

Era um problema. A noite estava acabando. Precisava de descanso.

Pensativo, encarava novamente o olhar da bela mulher.

Não. Não havia problema. As noites nunca têm fim.




3 comentários:

RODRIGO PACHECO disse...

Olha se identificação matasse eu morreria lendo esse texto rs, abraço

Thais Avila disse...

Senti um certo tipo de reconhecimento pessoal quando eu li, da primeira vez... posso me sentir lisongeada a ter sido a primeira pessoa a lê-lo? Obrigada pela confiança, Júlio... fico feliz em saber que tenho um grande amigo como tu.

Jeff disse...

Se fosse sexo não seria tão profundo! Adorei, muito bom!!

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